sábado, 17 de novembro de 2007

VAMOS SABER SE CONTARAM NOSSA HISTÓRIA CERTO - “Não corram! Vão pensar que estamos fugindo!”



POR SHARON RATIS

Maria assumiu o trono de Portugal, governando de 1777 a 1792, sucedendo ao seu pai, o rei D. José, e a trinta anos da atuação do Marquês de Pombal, a quem ela demitiu e exilou por conta das reformas que este fez em Portugal, nas quais a Igreja e a nobreza eram seus alvos favoritos.Esse seu ato quebrou o controle estatal de muitas áreas econômicas, permitindo que a Igreja e a alta nobreza retomassem seu poder sobre o Estado. Presos políticos foram perdoados, muitos nobres, reabilitado e muitos aristocratas fugidos da Revolução Francesa ganharam asilo político. Este período ficou conhecido como A Viradeira.

Antes de ser conhecida como Maria, a Louca, ela foi conhecida como Maria, a Piedosa, por causa de sua devoção religiosa e suas obras sociais.

Sua instabilidade mental começou a ser notada em 1792, obcecada que era pelos sofrimentos que seu pai estaria padecendo no Inferno por ter permitido que Pombal perseguisse os jesuítas. Maria tinha visões de seu pai, que ela descrevia como ‘um monte de carvão calcinado’. Para tratá-la, veio de Londres o médico e psiquiatra real que havia tratado Jorge III, enlouquecido em 1788.

Quando ocorreu a Independência dos Estados Unidos, em 1796, Dona Maria era dependente da economia inglesa. A situação de guerra favoreceu os cofres de Portugal, pois este era um dos poucos países envolvidos com o comércio em larga distância que não havia entrado em guerra. Foi nesta época que Dona Maria acabou com várias companhias estabelecidas pelo Marquês de Pombal, preocupada que estava em recuperar as rédeas da economia colonial e com a idéia de desenvolver o mercantilismo no Brasil.

De nada adiantou para Dona Maria os “remédios evacuantes” receitados pelo dr. Willis. A morte de seu marido, Pedro III, e do príncipe herdeiro, José, Duque de Bragança, mais a Revolução Francesa e a morte de Luís XVI, rei da França, na guilhotina, fez seu estado mental se agravar ainda mais. Seu filho, João, o príncipe regente, assumiu o trono em 1799, como D. João VI. E, dependentes que eram da economia inglesa, D. João achou melhor não entrar na briga entre a Inglaterra e a França, recusando-se a cumprir o Bloqueio Naval às Ilhas Britânicas.

Com medo de retaliação, a família real resolveu abandonar o país, fugindo vergonhosamente. Os nobres corriam desesperados pelas ruas de Portugal enquanto o povo português reclamava o abandono e, Dona Maria, agora, “a Louca”, pedia que todos caminhassem mais devagar, pois os franceses podiam pensar que estavam fugindo. Vieram para o Brasil em navios protegidos pela Inglaterra, em 13 de novembro de 1807, antes de sofrerem a invasão da coligação franco-espanhola do Marechal Junot que, logo depois, seria nomeado governador de Portugal.

Na viagem, D. João acabou assinando alguns tratados comerciais que favoreciam a Inglaterra e, logo depois de se instalarem em Salvador, D. João abriu os portos às nações amigas, pondo fim ao Pacto Colonial e dando ao Brasil o direito de comercializar com outros países – amigos da Inglaterra, claro. Isso fez que Portugal perdesse o domínio sobre o comércio brasileiro. Em 1810, assinaram o Tratado de Comércio e Navegação, estabelecendo os impostos que os produtos ingleses pagariam para entrar no Brasil, os mais baixos de todos, mais até que os impostos portugueses.
Em agosto de 1808, teve início a Guerra Peninsular. Nos dois anos seguintes, as forças luso-britânicas lutaram contra Napoleão, que só seria derrotado em 1815. No Brasil, para dar moradia a alta nobreza, D. João os mandava escolher as casas que quisessem, marcava-as com as iniciais P.R. (Príncipe Regente) e dava aos moradores um período mínimo para saírem. Os moradores diziam que P.R., na verdade, eram as iniciais de “Ponha-se na Rua”. Resolvido o problema habitacional, D. João tratou de pôr os nobres para trabalhar. Criou vários ministérios, o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Imprensa Real, as Escolas de Medicina, a Academia Real de Belas Artes, promovendo, enfim, um desenvolvimento cultural no país.

Em 1815, Napoleão foi derrotado. No ano seguinte, já vivendo internada no Convento das Carmelitas, no Rio de Janeiro, Dona Maria, a Louca, morre. Seu corpo foi levado para Lisboa e jaz numa igreja que ela mesma mandou construir, em agradecimento a uma promessa para ter um filho homem que lhe herdasse o trono. Seu filho, José, morreu de varíola dois anos antes de A Basílica da Estrela ficar pronta.

Está, pois, explicado, porque o Brasil é assim.

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