terça-feira, 18 de novembro de 2008

LEILA DINIZ - Uma revolução na praia

"Não morreria por nada neste mundo, porque eu gosto realmente é de viver! Nem de amores eu morreria. Porque eu gosto realmente é de viver de amores" (Leila Diniz)

Leila Roque Diniz nasceu no dia vinte e cinco de Março de 1945, em Niterói, Rio de Janeiro, onde passou a maior parte de sua vida. Formou-se em magistério e foi ser professora do jardim de infância no subúrbio carioca. Aos dezessete anos de idade, conheceu o seu primeiro amor, o cineasta Domingos Oliveira e casou-se com ele. O relacionamento durou apenas três anos. Foi nesse momento que surgiu a oportunidade de trabalhar como atriz. Primeiro estreou no teatro e logo depois passou a trabalhar na Globo fazendo telenovelas. Mais tarde, casou-se com o moçambicano e diretor de cinema, Ruy Guerra, com quem teve uma filha, Janaína.

Participou de quatorze filmes (que quase não são exibidos), doze telenovelas e muitas peças teatrais. Ganhou na Austrália o premio de melhor atriz com o filme Mãos Vazias.

Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquine sem nenhum pudor, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: " Trepo de manhã, de tarde e de noite".

Era uma mulher a frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções. Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de sessenta e setenta. Era malvista pela direita opressora, divamada pela esquerda ultra-radical e tida como vulgar pelas mulheres de sua época.

Além de ser jovem e bonita, Leila era uma mulher de atitude. Falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a entrevista que deu ao Pasquim em 1969. Nessa entrevista, ela a cada trecho falava palavrões que eram substituídos por asteriscos, e ainda disse: " Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo". Nos dias atuais, essa frase soaria mais que normal aos nossos ouvidos, mas é preciso lembrar que Leila a proferiu numa época em que se defendia cegamente a " a moral e os bons costumes".

Em Todas as Mulheres do Mundo Leila Diniz se projeta como atriz e personalidade, atuando numa história dirigida por Domingos de Oliveira, que incorporou claras referências à vida em comum do casal.

A musa do Pasquim rompeu barreiras e quebrou tabús do moralismo que até hoje persegue e delimita a expressão da liberdade feminina.

O exemplar mais vendido do Pasquim foi justamente esse onde houve a publicação da entrevista Da atriz carioca. E foi também após essa publicação que foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. Perseguida pele polícia política, Leila ficou escondida na casa do colega de trabalho e apresentador Flávio Cavalcanti.

Morreu no desastre de um avião no dia quatorze de julho de 1972, aos vinte e sete anos, no auge de sua fama, quando voltava de uma viagem a Austrália. Um primo e advogado se dirigiu à Nova Délhi, na Índia, local do desastre, para tratar da morte da atriz. O falecimento de Leila Diniz, aos 27 anos, causou comoção nacional e deu início à formação do mito em torno da mulher considerada revolucionária, que rompeu tabus e conceitos através de suas idéias e atitudes.

Cena de Leila Diniz no filme "Os Paqueras" de Reginaldo Faria, com Reginaldo Faria, André José Adler, e a turma da Santa Clara.






O LIVRO

LEILA DINIZ
- Uma revolução na praia
de Joaquim Ferreira dos Santos

Páginas - 312

A história da mulher brasileira não pode ser escrita sem um capítulo inteiro dedicado a Leila Diniz (1945-72). Filha de um líder do Partido Comunista, ela foi protagonista da primeira produção de novela da Globo, em 1965; participou no cinema das comédias de Domingos Oliveira e dos filmes experimentais de Nelson Pereira dos Santos, no ciclo do desbunde. No teatro, estava na revista tropicalista Tem banana na banda.
Leila teve um currículo de realizações artísticas expressivas em sua curta trajetória de 27 anos, mas nada se compara à contribuição que deixou para a história do comportamento feminino. Com sua espontaneidade e alegria, convicta na dedicação de se mover apenas pelo prazer e pela liberdade, ela ajudou a traçar um novo papel para a mulher na sociedade brasileira. Sempre sem discurso, sem palavras de ordem, sem colocar o homem como inimigo do projeto.
É nesse contexto, de uma autêntica revolucionária, sobrevivente também de uma infância dramática, que o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos apresenta a biografia da atriz, em um novo lançamento da coleção Perfis Brasileiros, coordenada por Elio Gaspari e Lilia M. Schwarcz. Desde a adolescência, em que Leila perambula pelos bares de Copacabana e Ipanema, até os dias em que foi julgada, num programa de TV, e condenada como nociva à sociedade, o autor conta as grandes passagens da vida da atriz. Na célebre entrevista concedida ao Pasquim (1969), figura de toalha amarrada na cabeça, escandalizando a sociedade e o governo militar por seus inúmeros palavrões e suas posições avançadas sobre sexo e comportamento. Em 1971, grávida, mostra a barriga na praia, mudando a moda e os modos. No teatro rebolado, vestia-se de vedete, maiô cheio de plumas. Abandonada pelas feministas, tachada de alienada pela esquerda e de vagabunda pela direita, Leila foi afastada da TV Globo, porque no entender da autora Janete Clair não havia papel de prostituta nas novelas seguintes. Sem trabalho, aceitou o convite para participar de um festival de cinema na Austrália. Na volta, morreu num acidente de avião, deixando uma filha de sete meses e o Brasil de luto. Um extenso caderno de fotos, e uma cronologia com os principais acontecimentos no Brasil e no mundo, mostram tudo sobre a "moça que", nas palavras de Carlos Drummond de Andrade, "sem discurso nem requerimento soltou as mulheres de vinte anos presas ao tronco de uma especial escravidão".

O AUTOR

Joaquim Ferreira dos Santos
Nasceu no Rio de Janeiro. É jornalista. Entre outros livros, escreveu Feliz 1958 - O ano que não devia acabar e Um homem chamado Maria, biografia do cronista e compositor pernambucano Antônio Maria.

um lançamento da

Nenhum comentário: