domingo, 13 de dezembro de 2009

WEBJORNALISMO: Política e Jornalismo em Tempo Real

Internet, jornalismo e política

As relações entre jornalismo e internet oferecem hoje, para profissionais e pesquisadores da comunicação, uma fronteira nova e desafiadora. Trata-se da nova mídia, assunto do momento: da mesma forma que rádio e TV fizeram atualmente a internet leva a comunicação social a reinventar sua linguagem e suas práticas. Talvez em ritmo ainda mais rápido, a internet é um ambiente comunicativo específico, capaz de reconfigurar o papel de emissores e receptores, demandando novas categorias analíticas que possam descrever seu fun
cionamento e explorar suas possibilidades.

No que diz respeito ao jornalismo, a internet estimula o imperativo do tempo real, amplia a variedade e acessibilidade das fontes, estende e barateia o espaço das notícias, torna editores, repórteres e redatores mais permeáveis à opinião e participação dos leitores. Esse novo ambiente de interconexão dinâmica ainda não foi plenamente colonizado pelas fórmulas e práticas estabelecidas nas escolas de jornalismo e redações, mas oferece um campo de experimentação para os profissionais, que procuram adaptar as normas do paradigma predominante no mercado jornalístico tradicional às novas possibilidades e costumes da comunicação em rede.
O livro de Juliano Borges investiga essa fronteira e apresenta uma contribuição original e relevante para o campo de estudos. Seu objeto específico, a cobertura política, permite inferências abrangentes, tocando o cerne da democracia contemporânea. Se o jornalismo tem papel relevante para a política democrática, é fundamental investigar a importância crescente da internet para seu exercício. A proposta de conhecer os procedimentos e as rotinas das redações online, seus valores, processos e conflitos específicos permite apreender essa nova realidade política de uma de suas perspectivas principais: a dos próprios jornalistas. Empenhados em produzir informação cotidiana em larga escala, os jornalistas acabam por condicionar tanto a compreensão de seus leitores quanto os esforços de propaganda dos atores políticos.

Como escreve Juliano Borges, “as características técnicas e operacionais do meio de comunicação, no caso a internet, podem influenciar o resultado do trabalho jornalístico que nele se exerce de acordo com a forma como esses traços são apropriados pela comunidade jornalística”. Sem assumir uma perspectiva determinista, seu argumento admite a influência das características técnicas de um meio no resultado da comunicação. As mudanças percebidas nas práticas editoriais seriam, assim, “reflexo da nova dinâmica de interação entre as formas convencionais de produção jornalística e os novos procedimentos técnico-profissionais”. As marcas principais que o autor aponta como distintivas do webjornalismo em relação a todas as outras formas de imprensa são a expansão do espaço de publicação e a velocidade acelerada de produção. Tempo e espaço do jornalismo ganham nova perspectiva com a internet. A temporalidade se mostra elemento central da análise, perpassando a tensão entre os ritmos da política – regidos por dinâmicas temporais próprias, submetidas, por exemplo, ao calendário eleitoral e aos interesses partidários – e a demanda da atualidade, bússola do jornalismo em geral e do webjornalismo em particular.

A questão do espaço também incide sobre as novas práticas editoriais. O processo de seleção dos fatos e os critérios de que definem o que é notícia mudam com a internet. Tradicionalmente, o jornalismo se caracteriza pela seleção dos fatos, pelo exercício cotidiano de definir o que vale a pena tornar público e o que pode ser cortado. O jornalismo online, por outro lado, trabalha com a incorporação do máximo de eventos possíveis, expandindo o alcance da cobertura política e delegando a repórteres e leitores parte da tarefa de ordenar, selecionar e descartar informação irrelevante. Com a maior autonomia dos repórteres, cresce o papel dos jornalistas como filtros, indicadores de saliência e relevância; por outro lado, editores e redatores perdem importância como gatekeepers.

Isso alça o receptor a uma posição de maior poder, ao menos em potencial: é ele quem escolhe as informações a que terá acesso e o tempo que dedicará a cada assunto ou matéria. Lidar com o excesso de informação disponível demanda um leitor mais interessado e treinado, e a informação jornalística na internet responde a essa segmentação do público leitor com o detalhamento e diversificação de suas pautas, disponíveis para aqueles de quem conseguir chamar a atenção.
O autor procura dar conta desse panorama complexo, recorrendo com sensibilidade a uma abordagem metodológica combinada, que alia a observação qualitativa das redações (que inclui entrevistas com editores e repórteres) ao monitoramento quantitativo das publicações online ao longo de episódios significativos da história política recente. A partir de comparações entre temporalidades, veículos, versões online e impressas e modos discursivos (políticos e jornalísticos), Juliano Borges produz uma análise acurada e bem escrita, apontando as principais possibilidades e limitações desse novo modo de fazer jornalismo.

Quais as consequências dessas características para o exercício da política na contemporaneidade – seja pelos cidadãos, pelas instituições ou pelos diferentes atores políticos? A pesquisa que aqui se apresenta indica que os jornais online podem ser entendidos como provedores de informação complementar aos meios de massa, dando publicidade a cenários e personagens políticos negligenciados pela grande imprensa, como por exemplo, a política local, ações parlamentares e partidárias. A rotina de produção acelerada também leva os jornalistas a buscar alternativas às fontes tradicionais, devido à limitação de sua capacidade de prover informações para as novas demandas do jornalismo online, o que leva a um jornalismo menos declaratório e oficial, em certa medida mais espontâneo.
Assim, a comunicação em rede tem como consequência, para a cobertura da política, a diversificação dos personagens e o detalhamento das informações, ou seja, a incorporação de novos atores e novos cenários na comunicação política. Pautas ignoradas pela imprensa tradicional podem conseguir espaço nos jornais online e se transformar em notícia a ser considerada pelos impressos, num processo de circulação de notícias que tem efeitos no próprio jornalismo tradicional.

Trata-se de uma dinâmica que, por si só, amplia o debate público político. Sem atribuir caráter revolucionário a essas mudanças, Juliano reconhece que elas contribuem para democratizar da comunicação, pois a visibilidade de novos atores e novos cenários representa um revigoramento para os processos políticos. Nesse sentido, sua tese, agora na forma de livro, aponta para uma perspectiva otimista, embora não ingênua: mais comunicação parece estar positivamente relacionada a mais democracia, e ampliação do espaço e aceleração do tempo, no jornalismo eletrônico contemporâneo, confirmam essa tendência.

Este é o prefácio escrito por Alessandra Aldé para o livro


WEBJORNALISMO:
Política e Jornalismo em Tempo Real

de Juliano Borges


240 páginas

O livro mapeia o processo de elaboração da notícia em webjornais, da definição de pauta à publicação do fato, e identifica impactos políticos do processo editorial.

O AUTOR
Juliano Borges
Jornalista graduado em Comunicação Social pela UFRJ e doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Foi assessor de imprensa da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras e também trabalhou como repórter do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro, onde colaborou para consolidar a WebRádio e implantar a WebTV da instituição. Trabalhou como pesquisador associado do Laboratório Doxa de Pesquisas em Comunicação Política e Opinão Pública. Atualmente leciona e desenvolve pesquisa acadêmica no Departamento de Teoria da Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, onde desenvolve pesquisa sobre blogs de política e novas tecnologias da comunicação.

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