sexta-feira, 5 de março de 2010

Abertura do IV Festival BNB das Artes Cênicas abrange 18 espetáculos gratuitos em três cidades

A abertura do IV Festival BNB das Artes Cênicas abrange a realização de um total de 18 espetáculos gratuitos em três cidades (nove espetáculos em Fortaleza; quatro em Juazeiro do Norte, no Cariri, região sul do Ceará; e cinco em Sousa, no alto sertão paraibano), no próximo sábado, 6, no período de 09h30 às 21h30.
Em Fortaleza, a programação começa às 09h30, na Praça da Ferreira, situada no coração da cidade, com a apresentação de três grupos cênico-musicais: Afoxé Acabaca, de Fortaleza; Coco do Iguape, da praia do Iguape (CE); e Reisado de Couro, de Barbalha, município caririense. Da Praça do Ferreira, os três grupos seguem em cortejo pelas ruas até o Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108).
O grupo Afoxé Acabaca se propõe a ser mais um componente na diversidade cultural cearense. A manifestação acontece como um cortejo afrodescendente jejê-nagô, tradicionalmente em desfile carnavalesco. Sua plasticidade ritmada por ágeis mãos negras entoam mantras afros com seus alabês, em três tipos de atabaques: o Rum, o Rumpi e o Lé. Os ritmos são acompanhados por xequerês e agogôs e também pela dança, em Ijexá de cadência marcante.
O Coco do Iguape é um grupo de cultura popular tradicional, natural da praia do Iguape (CE), que difunde o “coco de praia” – manifestação rítmica que inclui música e dança. O tocador faz a marcação num caixote de madeira onde ele fica sentado, onde uns cantam e outros entram na roda para dançar uns após os outros. A vestimenta imita a roupa dos pescadores, com chapéus de palha, calça e blusa tingidos pela casca do cajueiro. O grupo já existe há mais de um século.
Por sua vez, o Reisado de Couro é originário do sítio Barro Vermelho, em Barbalha, formado por familiares e tendo à frente José Pedro, conhecido como Mestre Zé Gonçalo, que começou sua atividade há 50 anos. Hoje, aos 80 anos, é o mais antigo integrante do grupo, atualmente com 15 integrantes. A tradição vem da época em que a atividade de maior importância do sertão cearense era a pecuária. A matança do boi é o enredo de toda a história, feita em versos de improviso de caráter engraçado e acompanhado por dança e música.
Ao meio-dia, no saguão térreo do CCBNB-Fortaleza, a Cia. Camarim de Teatro, de Maranguape (CE), apresenta “As prosopopéias de Cassimiro Coco”. Extraído a partir de contos da tradição oral, o espetáculo apresenta de forma lúdica e divertida as gaiatices e molecagens de Cassimiro Coco, um nordestino esperto que de porta em porta consegue engabelar uma cangaceira valente, um delegado incompetente e moças no caritó, aprontando muito mais que João Grilo, Mateus e Pedro Malasarte. Direção e cenografia de Davidson Caldas.
No período da tarde, a partir das 15h30, no cineteatro do CCBNB-Fortaleza (2º andar), tem início a Mostra de Esquetes (encenações rápidas), com a apresentação de três grupos fortalezenses: Cia. Fulô de Talvim, com “Sou fria sofria Sofia”; grupo Cambada, com “[Sem] meio termo”; e o Projeto Cada Falso, com “Mundo cão – tentativa de canicídio”.
Livre inspiração em “Os Desastres de Sofia”, de Clarice Lispector, SOU FRIA SOFRIA SOFIA é levado ao palco, deixando o tom de literatura do texto para enquadrar-se num mundo de ações que o teatro instiga. Em um ambiente de reminiscências da personagem, Sofia é cercada de antagonismos. No entanto, isso é uma armadura para disfarçar a sua maior desilusão, a perda do grande amor. Uma narrativa que nos conduz a um só sentimento: a inquietude de querer e não ter. Direção: Ciel Carvalho.
[SEM] MEIO TERMO, por sua vez, traz para cena dois casais, intérpretes de um mesmo texto, porém com rumos completamente distintos. Falas iguais ganham sentidos diferentes pelo uso de subtextos antagônicos. O contraste entre os casais vão além da oposição dos desfechos entre suas histórias. Enquanto o primeiro tem uma interpretação naturalista, de poucos movimentos e com o foco principal no ato de “dizer”, o segundo transforma o corpo em um elemento que habita o extra-cotidiano. Direção: Andrei Bessa e Raquel Mendes. Classificação indicativa: 12 anos.
E o esquete “Mundo cão – tentativa de canicídio” busca enfatizar o desespero da personagem na tentativa – quase sempre falha – de se comunicar. Ao escolher um cachorro como cobaia, ele acaba por adentrar num labirinto de dúvidas e incertezas que o levam a se identificar com o mundo canino e a questionar sua própria humanidade. A tentativa de comunicação entre um homem e um cachorro. A falha, o ruído, o desnível. Atração e repulsa. Nossa personagem antropo-canina ladra, ladra, mas não morde. Direção: Washington Hemmes.
Às 17 horas, no saguão térreo do CCBNB-Fortaleza, será apresentado o espetáculo de dança “Cavalos 1200”, com o trio cearense Andréia Pires, Daniel Pizamiglio e Leonardo Mouramateus. Trata-se de uma ficção para aqueles que não conseguem ficar parados em um quarto, que adoram beijar com os lábios e são extremamente tristes e incrivelmente felizes. 1.200 pessoas em cena, 24 bailarinos por segundo, duas baixas, animais sacrificados por terem quebrado os membros. Se você quiser saber mais sobre a guerra ou sobre o amor, ligue para 85-8824.5869, ou para 85-8742.2334 ou ainda para 85-8756.5083.
Em Fortaleza, a programação de abertura do IV Festival BNB das Artes Cênicas se encerra, às 18h30, com a apresentação do espetáculo solo “Bravíssimo” – atuação, direção e dramaturgia do cearense Ricardo Guilherme, a partir de crônicas de Nelson Rodrigues. O texto compila e reelabora crônicas de Nelson Rodrigues – publicadas entre 1950 e 1970 – nas quais o escritor analisa arquétipos de identidade do povo brasileiro. A concepção cênica configura o discurso em duas personagens emblemáticas que encarnam maneiras diametralmente opostas de encarar o Brasil: a grã-fina das narinas de cadáver e a vizinha gorda e cheia de varizes. A primeira representa aqueles que menosprezam o Brasil e a segunda, os que acreditam na transfiguração do País. Classificação Indicativa: 14 anos.

Em Juazeiro do Norte, no Cariri
No Centro Cultural Banco do Nordeste-Cariri (rua São Pedro, 337 – Centro – fone: (88) 3512.2855), em Juazeiro do Norte, a programação começa às 15 horas do sábado, 6, com a Mostra Infantil, trazendo o espetáculo “Histórias para ouvidos pequenos”, apresentado pelo contador de histórias Zé Bocca, de Votorantim (SP). O artista apresenta contos tradicionais brasileiros repletos de brincadeiras, trava-línguas e mistérios, colhidos carinhosamente em seu vasto mundo da contação de histórias. Utilizando-se de objetos em cena, ele faz com que a imaginação aconteça através desse encontro com o universo infantil. Às 16h30, as professoras Gildenária Soares e Aparecida de Moura, de Sousa (PB), ministram a oficina “Artelhaços”, com a temática do palhaço.
A partir das 18 horas, na Praça Padre Cícero, acontece a Mostra de Teatro de Rua, com a apresentação do espetáculo “Circo do Sopé”, pelo Circo-Escola Alegria, da Sociedade Cariri das Artes, do Crato (CE). O Circo do Sopé é a expressão do mundo alegre e multicolorido do circo, representado num precioso espetáculo de variedades, onde se destacam elementos simbólicos tradicionais como as artimanhas de palhaços equilibristas, os números aéreos em lira e tecido, além da destreza performática com malabares de fogo.
A Mostra prossegue às 19 horas com “A vingança do Finado Joaquim”, da Cia. Anjos da Alegria, também do Crato (CE). O espetáculo narra a estória do Finado Joaquim, um velho fazendeiro muito rico e já falecido há muitos anos, que deixou uma botija cheia de ouro escondida para que ninguém pudesse pegá-la, pois se alguém mexesse em sua botija ele iria amaldiçoar. Foi o que aconteceu com a Rosinha, que com o intuito de ficar rica e famosa, conseguiu pôr as mãos nessa botija e foi amaldiçoada pelo Finado Joaquim, que lhe jogou uma praga de passar o resto da vida com disenteria. Rosinha, não aguentando mais a terrível dor de barriga, procura a Dona Maricota, uma curandeira que tenta desfazer o catimbó do finado. Direção: Flávio Rocha.

Em Sousa, no alto sertão paraibano
No Centro Cultural Banco do Nordeste-Sousa (rua Cel. José Gomes de Sá, 07 – Centro – fone: (85) 3522.2980), a programação tem início às 14h30 do sábado, 6, com a exibição do filme infantil “Castelo Ra-tim-bum”, dentro da Sessão Curumim. Sinopse do filme: numa megametrópole, o aprendiz de feiticeiro Nino vive uma surpreendente aventura para salvar o castelo e seus tios Victor e Morgana da maldição da bruxa Losângela. Direção: Cao Hamburger.
A partir das 18 horas, três grupos paraibanos saem em cortejo da Praça da Matriz até chegar ao CCBNB-Sousa. São eles: grupo Imburana de Danças Populares, de João Pessoa, apresentando cocos e cirandas do Nordeste brasileiro; o Circo Cortejo, de Sousa; e o grupo CAISCA, de Campina Grande.
O grupo Imburana, através da vivência direta dos integrantes com variados tipos de cocos de roda e cirandas do Nordeste, principalmente nos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas, apresenta uma espécie de aula-espetáculo, onde o público interage diretamente com as danças apresentadas. Direção: Marcello Bulhões.
Por sua vez, o Circo Cortejo traz palhaços, pirofagistas, pernas-de-pau e outros artistas executando performances durante o trajeto do cortejo e literalmente arrastando o povo para o encontro com a arte e cultura, esquentando o clima do festival. Nada melhor que o circo como linguagem universal, para abraçar todas as formas e expressões artísticas, anunciando a chegada de um festival tão rico em sua diversidade de linguagens e cores. Direção: Manoel Paulo.
E O CAISCA apresenta as influências na formação de nossa cultura, fator importante para o conhecimento do nosso povo e de seus costumes. Além de suas características européias, a dança na Paraíba traz traços indígenas marcantes, oriunda principalmente do litoral do Estado, onde legou sua influência para o enriquecimento na formação cultural do povo paraibano, dando lhes características próprias. Direção: Alexandre Felizardo.
Encerrando a programação, a Cia. de Dança Terra Brasilis apresenta o espetáculo “Maya”, no cineteatro do CCBNB-Sousa, às 20h30. Maya é tudo que está sujeito à mudança e que, portanto, tem princípio e fim. É magia, fantasia, uma espécie de transe mental para impulsionar a humanidade a mudanças, levando a uma nova era, a era da mulher, da sensibilidade, profetizada pelos próprios maias, civilização indígena de várias regiões da América Latina. Maya pintor, que retrata um erotismo contagiante, formas sensualistas, a mulher ansiando pela chegada do amante em “O eterno amor”. Como também Maya pintura de Goya, a “Maya desnuda” e a “Maya vestida”, figuras de uma mesma mulher, transpassando sua própria intimidade. Direção: Rodrigo Araújo. Classificação Indicativa: 12 anos.

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