segunda-feira, 29 de março de 2010

“O PÚCARO BÚLGARO”, ROMANCE-EM-CENA


O “Púcaro Búlgaro”, encenação de Aderbal Freire-Filho para o texto homônimo de Campos de Carvalho, é a atração do Teatro Regina Vogue neste final de semana, nos dias 3 e 4 de abril. O personagem central do romance é Hilário, que no verão de 1958 descobre um púcaro búlgaro numa pequena sala do Museu Histórico de Filadélfia. A partir daí, obsecado por esse fato, move mundos e fundos a fim de organizar uma expedição que pudesse comprovar ou não a existência da Bulgária (já que da existência dos púcaros ele não duvida).

Em seu apartamento no alto da Gávea, recebe toda a sorte de personagens esdrúxulos, candidatos a tomar parte na viagem – um alfarrabista interessado em abrir uma fábrica de acentos circunflexos na Bulgária, um descendente do sábio hindu que inventou o zero, um professor de bugarologia e bugarosofia, um sujeito chamado Expedito, e que pelo nome se acha credenciado para a expedição, um ex-habitante de Pizza que descobriu que a cidade, e não a torre do mesmo nome, é que está inclinada – enfim, um grupo surreal, dos quais alguns são aceitos para participar da aventura.

Entre os meses de outubro e dezembro de 60, período em decorre a ação do romance, são ultimados os preparativos, escolhido o meio de transporte e traçado o roteiro rocambolesco (com a ajuda inestimável do professor de Bugarologia) que farão Hilário e seus expedicionários para tentar descobrir (“ou não descobrir”) se a Bulgária existe mesmo. Ao final, depois que o expedicionário Expedito foge com a empregada da casa (amante de Hilário) e um cheque de dois milhões, o restante grupo de expedicionários transforma a iminente partida para a Bulgária numa inocente partida de pôquer e desiste da empreitada.

Fechamento de uma trilogia

Campos de Carvalho (1916-1998) foi um dos autores mais incensados e paradoxalmente menos conhecidos da literatura moderna brasileira. O espetáculo fecha a trilogia de romances-em-cena do diretor Aderbal Freire-Filho, iniciada em 1990 com a montagem de “A mulher carioca aos 22 anos”, de João de Minas, e seguida, 13 anos depois, por “O que diz Molero”, de Dinis Machado. Com cenários de Fernando Mello da Costa, figurinos de Biza Vianna, iluminação de Maneco Quinderé e música de Tato Taborda, a empreitada teatral de “O Púcaro Búlgaro” apóia-se no humor inventivo e delirante daquele que forma, ao lado de Guimarães Rosa e Clarice Lispector, a chamada “santíssima trindade” da prosa brasileira.

As afinidades entre os romances-em-cena não se restringem no palco ao ritmo vertiginoso da montagem. Todas preservam o texto original, principal característica do gênero: “O que faço é explorar ao máximo as possibilidades teatrais desse material literário. A razão é querer manter o sabor que as palavras e as descrições de personagens e lugares têm no original. Mas como não há um narrador em cena, cabe aos personagens fazer as narrações, inclusive sobre si próprios. Sem adaptação, obviamente o que eles dizem fica na terceira pessoa, assim como faz o Pelé”, diverte-se Aderbal. “Dessa forma, tento levar às últimas conseqüências a natureza ilusória da cena, brincando o tempo inteiro com a verdade e a mentira, com a farsa da representação”, conclui.

Para o diretor, outra característica fundamental nos romances-em-cena é o humor: “Não acredito que possa fazer um gênero como esse sem ser nesse registro do bufão, da caricatura. Até porque são quase 50 personagens – em ‘A mulher carioca’ e ‘Molero’ eram quase 200 –, fica muito perto da farsa”, explica. “A diferença deste para o espetáculo anterior é que enquanto ‘O que diz Molero’ alternava humor com lirismo, ‘O Púcaro Búlgaro’ intercala um humor popular, escrachado, com outro sofisticado, cheio de referências cultas, mais sutil. Campos de Carvalho é mestre nisso. É um extrato de humor especialíssimo, herdeiro do humor extremado de Rabelais”, compara Aderbal. “A literatura que eu gosto, as coisas que me atraem são levadas pela força do riso; a nobreza do humor, do riso é fundamental. Todos os romances-em-cena são muito divertidos”.

“O Púcaro Búlgaro” estreou em 1º de junho de 2006, no Teatro Poeira no Rio de Janeiro, tendo diversas indicações e prêmios tais como: PRÊMIO ELETROBRÁS/Rio/2006 e PRÊMIO QUALIDADE BRASIL/SP/2007, Melhor Ator (Gillray Coutinho), Melhor Espetáculo e Melhor Diretor (Aderbal Freire-Filho); e PRÊMIO CONTIGO/2007, Melhor Espetáculo/Comédia. Depois de ter viajado pelo Brasil, em 2009 o espetáculo participou de Festival Internacional de Artes Cênicas, em Montevidéu, Uruguai. Com um elenco afinado e premiado – alguns dos atores são conhecidos por suas atuações no cinema e na TELEVISÃO: “A Grande Família”, “Fantástico”, “Sítio do Pica-pau Amarelo”, etc –, o espetáculo ficou conhecido como uma bem-sucedida e deliciosa viagem teatral.


“Um romance-em-cena puro sangue”


Sérgio Salvia Coelho, crítico da Folha de São Paulo, diz que “O Púcaro Búlgaro” é “um romance-em-cena puro sangue” se referindo ao gênero novo que leva cada ator a ser narrador de si mesmo no próprio momento em que age, mantendo o texto integral por meio de um vertiginoso rodízio de personagens. O romance-em-cena é o jogo da ilusão no teatro levado ao paroxismo, verdade e mentira escancaradas simultaneamente, o discurso em terceira pessoa e a ação na primeira pessoa. É ainda a comunhão carnal mais acabada do épico e do dramático, o tempo inteiro narrativo e o tempo inteiro dramático. Uma versão radical do sonho de alguns teóricos do século 20 de convidar para a mesma mesa Aristóteles e Brecht.

FICHA TÉCNICA

Autor: Campos de Carvalho
Romance–em–cena de Aderbal Freire-Filho
Elenco: Ana Barroso, Candido Damm, Gillray Coutinho, Isio Ghelman e José Mauro Brant

Cenário: Fernando Mello da Costa, Rostand Albuquerque
Figurino: Biza Vianna
Música: Tato Taborda
Luz: Maneco Quinderé
Preparação Corporal: Duda Maia
Direção de Produção: Willian Taranto
Realização: Idarte Produções Artísticas Ltda
Patrocínio: PETROBRAS, Lei de Incentivo à Cultura e Governo Federal

SERVIÇO “O Púcaro Búlgaro” Dias e horários das apresentações: 3 de abril às 21 horas e 4 de abril às 19:30 horas Local: Espaço Teatro Regina Vogue Endereço: 7 de setembro n° 2775, loja 2004 - Shopping Estação - Curitiba Telefone/informações: (41) 2101-8292 Classificação etária: 14 anos Duração: 120 minutos Capacidade de público: 326 lugares Valor do ingresso: R$ 30,00 e R$ 15,00 (para estudantes, menores de 18 anos, maiores de 60 anos e professores da rede estadual de ensino. 50% de desconto, sob o valor da inteira, para portadores do Cartão Petrobras na compra de até 02 ingressos).


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