segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Obras de Krajcberg serão restauradas pelo próprio artista na Bahia


As obras de Frans Krajcberg, pertencentes ao acervo do município e que compõem a exposição permanente no Espaço mantido pela Prefeitura Municipal, passarão por restauro a ser feito pelo próprio artista. O trabalho será realizado em Nova Viçosa, na Bahia, onde Krajcberg reside. A decisão foi tomada por uma liminar da justiça, a partir de um pedido formal realizado pelo artista.

A Fundação Cultural de Curitiba, que pelo Decreto 381/03 foi designada como gestora do Espaço Cultural Frans Krajcberg, sendo responsável pela administração do espaço e conservação das obras, não pretende recorrer da decisão. “Há muito tempo estamos tentando obter o aval de Krajcberg para recuperar as obras, mas sem sucesso. Agora, pelo menos ficamos felizes por finalmente ele concordar com o fato de que este trabalho precisa ser feito e tenha decidido ele mesmo efetuar as intervenções necessárias”, diz Paulino Viapiana, presidente da Fundação Cultural.

O presidente explica que, de acordo com o documento, para restauro ou qualquer intervenção nas obras e no espaço museográfico, há a necessidade de autorização de Krajcberg. Assim, “vamos respeitar uma decisão que já era assegurada pelo decreto que estabelecia as regras para a manutenção das obras doadas para a cidade. Só lamentamos que ele tenha recorrido à justiça para fazer este trabalho lá e não aqui”.

Viapiana lembra que em 2005, início da gestão do Prefeito Beto Richa, a Fundação Cultural de Curitiba criou o Programa de Organização e Recuperação de Acervos, para reorganizar a documentação e a situação legal de obras e coleções sob sua guarda. Uma das primeiras iniciativas foi realizar o inventário, avaliação e diagnóstico do estado de conservação das obras de Krajcberg e providências para regularizar a doação do acervo, já que o mesmo ainda não havia sido passado oficialmente para o município. Assim, em setembro de 2005, o artista assinou o Termo de Doação do acervo que passou a integrar oficialmente o patrimônio artístico da cidade, sob guarda e responsabilidade da Fundação Cultural de Curitiba.

Paulino Viapiana destaca que Curitiba se orgulha de ter em seu acervo as obras de Frans Krajcberg e que faz parte da política cultural da cidade manter salvaguardados todos os bens que pertencem ao seu patrimônio, e que a FCC sempre manteve um plano de ação para garantir, permanentemente, a preservação do acervo de Krajcberg. Porém, com relação ao restauro das obras, o artista nunca autorizou qualquer intervenção, nem mesmo com um pedido formal realizado em outubro de 2006, pelo então prefeito Beto Richa. “Vamos agora aguardar uma decisão da justiça quanto ao prazo para a execução do trabalho, já que isto não ficou estabelecido pela liminar, para que o Espaço fique fechado o menor tempo possível.”

O espaço Cultural Frans Krajcberg - Um dos pontos turísticos mais procurados da cidade, o espaço abriga uma exposição permanente das obras de Frans Krajcberg, artista reconhecido internacionalmente pelo seu engajamento na preservação da natureza. Criado oficialmente em 2003 para abrigar as obras doadas pelo artista ao município, a galeria recebe anualmente cerca de 60 mil visitantes.

No Espaço estão esculturas de grandes dimensões, feitas com cipós e troncos de madeira queimada, retirados diretamente de florestas onde houve depredação. No total são 110 esculturas de grande porte subdivididas em séries e classificadas pelo artista conforme as características do material: série palmas, mangue, grandes troncos, cipós, queimadas, cipós texturas rugosas, palmeira e bolas. Além das esculturas, o acervo é composto ainda por 11 fotografias, três assemblagens e uma gravura em relevo, vídeos, textos e publicações que formam um centro de documentação e servem de base para ações educativas.

A escolha do local para abrigar o acervo doado foi feita pelo próprio artista que também realizou a curadoria, escolhendo pessoalmente onde cada obra deveria ser exposta. O espaço já havia sido utilizado na mostra "A Revolta", que foi exibida em Curitiba em 1995, com curadoria de Orlando Azevedo, então Diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural. Devido ao grande sucesso de sua primeira passagem pela cidade, e pela consciência ecológica atribuída a Curitiba, o artista optou por doar parte de seu acervo para o município.

A programação, a cargo da Fundação Cultural de Curitiba, envolve, além da exposição permanente, mostras de vídeo, debates, seminários, visitas monitoradas para escolas e outras ações que visam à educação ambiental e à discussão sobre artes visuais.

Preservação - Considerando o caráter singular das obras e as características da constituição da matéria com que foram produzidas, ou seja, materiais orgânicos, e o alto grau de fragilidade das peças, somado às intempéries climáticas que provoca naturalmente a decomposição biológica das obras, a FCC estruturou um plano de ação para garantir, permanentemente, a preservação do acervo de Frans Krajcberg. Desde então, uma série de ações foram colocadas em prática:

Setembro a novembro de 2006 - Atendendo solicitação da Diretoria de Patrimônio Cultural da FCC, e por indicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, é contratado o Centro de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Minas Gerais (CECOR), o maior centro especializado da América Latina. A equipe, sob a orientação do Dr. Luiz Antonio Cruz Souza, produziu e entregou um extenso laudo técnico-científico, relativo à adequação ambiental do espaço físico e à preservação do acervo artístico. Com base nas indicações especializadas, a FCC realizou serviços de readequação do espaço Frans Krajcberg, buscando melhorar as condições físicas e ambientais do prédio e de conservação das obras. Em outubro, o prefeito Beto Richa encaminha a Krajcberg pedido oficial de autorização de restauro das obras, porém não obtém resposta do artista.

2007 - Simultaneamente, e ao longo de toda a gestão, vistorias constantes e ações permanentes de conservação preventiva foram realizadas pelo Setor de Conservação de Acervos da Diretoria de Patrimônio Cultural. A equipe contou com o apoio voluntário da arquiteta Wivian Diniz, formada pelo CECOR-MG, e co-autora do laudo técnico, com discussão teórica e técnica, monitoramento, avaliação e orientação a respeito da conservação do material altamente degradável, do qual as obras são produzidas.

2007-2008 - Foram intensificadas as ações de monitoramento das peças, com vistorias mensais e ações de higienização. Considerando o aceleramento da deterioração das obras, intervenções de maior porte mostraram-se inadiáveis. Diversos contatos foram feitos com o artista e seu assessor para definição dos procedimentos para recuperação das obras. Também foram feitos orçamentos para restauro das peças, porém sem retorno efetivo por parte do artista, a contratação não pode ser realizada.

Outubro/novembro 2008 - Em razão do Decreto de criação do espaço - de que intervenções de restauro devem ser autorizadas pelo artista, e seu executor por ele instruído, diversas tentativas de contato foram feitas pela FCC e, em decorrência, o Sr. José Alves (Zé do Matto), assessor de Krajcberg, esteve em Curitiba e se dispôs a realizar pessoalmente os serviços de restauro. Em paralelo, foi autorizada a liberação de recursos do Fundo Municipal da Cultura, no montante de R$ 306.000,00, para contratação de serviços de preservação do espaço, dos quais R$ 241.000,00 para restauro das obras e R$ 65.000,00 para readequação museográfica do espaço. Com a recusa do artista, o trabalho não pode ser realizado.

Em 21 de novembro de 2008, o presidente da FCC, Paulino Viapiana, em cumprimento às exigências contratuais e, em consideração às recomendações pessoais do artista, realizou viagem ao Rio de Janeiro para comunicar-lhe o andamento do plano de salvaguarda das obras, e obter a autorização formal para dar andamento ao processo de restauro. Surpreendentemente, o artista recusou-se a dar o consentimento, dizendo-se contrário a qualquer tipo de intervenção.

2009 - Como medida preventiva e visando a melhor conservação das obras, o Espaço Cultural Krajcberg foi fechado para manutenção. Durante o período de fechamento, foi levantado o interesse do Boticário, que estava assumindo a preservação do Jardim Botânico, de executar o projeto elaborado pelo arquiteto Fernando Canalli, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que reunia num só espaço as obras de Krajcberg e o Estação Natureza, projeto do Boticário. Pela proposta apresentada, acompanhada inclusive de maquete, haveria uma ampliação do espaço atual, com a readequação necessária para abrigar e preservar o acervo, mantendo-se as características definidas originalmente pelo artista. Porém, de acordo com o Dr. Miguel Krigsner, do Boticário, que falou pessoalmente com Krajcberg, ele não autorizou a execução do projeto.

2010 - O espaço é reaberto ao público. Como forma de preservar o acervo, a Fundação Cultural de Curitiba, com o apoio da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, deu início à elaboração de um novo projeto de readequação do espaço, que prevê a troca da cobertura da Galeria pelo mesmo material original, para não descaracterizar o espaço escolhido por Krajcberg, e a readequação do sistema de climatização. Também são intensificadas as ações de monitoramento das peças, com vistoria permanente e ações de higienização constantes, além de elaboração de laudo sobre o estado de todas as obras, realizado pela equipe da Diretoria de Patrimônio da FCC.

A licitação da primeira etapa de readequação do espaço foi concluída e o projeto deve estar pronto em meados de outubro. Porém, Paulino Viapiana destaca que com a retirada das obras para o restauro, o cronograma deverá sofrer alterações em virtude do tempo de execução do trabalho que ainda deverá ser definido pela justiça.

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