quarta-feira, 22 de junho de 2011

evento -CCBNB-Fortaleza abre a exposição individual "Água Viva"


CCBNB-Fortaleza abre a exposição individual "Água Viva", da artista visual pernambucana Amanda Melo


O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108) abrirá a exposição individual "Água Viva", da artista visual pernambucana Amanda Melo (atualmente radicada em São Paulo), com curadoria de Bitu Cassundé, na próxima terça-feira, 28, às 18 horas. Com entrada franca, a mostra ficará em cartaz até 31 de julho deste ano (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 12h às 18h).



A Poética e o Mar em Água Viva (texto curatorial de Bitu Cassundé)

A poética de Amanda Melo é regida por procedimentos cartográficos. Discute uma temporalidade localizada entre o "Território/Corpo" e agrupa a essas questões uma geografia que revela e problematiza essas interfaces. Atua em diversas frentes de linguagem como a fotografia, o objeto, o desenho, a performance e o vídeo, refletindo acerca do corpo em fluência com uma diversidade de paisagens, que o torna agente direto da composição visual.

A natureza da imagem em sua poética é composta por algumas questões essenciais ao discurso contemporâneo. Existe ali uma confluência nas construções narrativas que discutem o sujeito em fricção com a fantasia, com o fantástico, com o maravilhoso. Dessas narrativas surgem pequenos atos ficcionais revelados pela confluência entre personagem e meio.

Atua em proposições que discutem o corpo no embate com a natureza e no resultado poético que essa junção - ou essa oposição - pode ocasionar. Se apropria do mar como um dos principais suportes para compor seus atos ficcionais. O mar, na obra de Amanda Melo, é território fundamental para o exercício da poiesis. Nela, o desejo é o grande agente que conduz ao ato produtor, à forma, ao instante da experiência; o desejo do outro lugar que se torna real através do trajeto, do caminho, do percurso, o desejo que se apropriará de um corpo móvel, de um corpo instável diante de uma paisagem que será formatada pelo desequilíbrio.

Ali, o mar atua no corpo, a água salgada corrói a figuração, dá forma a um novo instante do olhar. É uma escrita da entrega, uma oferenda ao maravilhoso. A série "Sal é Mar" é regida por essa ordem, por essa vontade, pelo desejo do que está além da linha do horizonte. Amanda Melo cartografou parte do litoral brasileiro e um pequeno trecho do litoral espanhol, construindo sua ficção da paisagem contemporânea. Registrou algumas praias dos seguintes estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Pará e Macapá).

O outro lugar, para Amanda Melo, é ato de desterritorializar-se, é alimento à sua regência cartográfica, de reescrever o novo lugar, de ficcionar uma nova natureza, e nela atuar como agente ativo, possibilitando o exercício de suas linhas de fuga. Dentro desta perspectiva, é irreal associar a sua poética a uma produção do "feminino", como sinônimo de "delicado, sensível, doce, maternal, sensual". Porém, a ordem da poética é a da desconstrução desses conceitos de superfície. Como obra dita "feminina", foge do clichê e se localiza justamente na construção de uma nova identidade.

A exposição "Água Viva" evidencia proposições em que o mar é agente compositor da poética e protagonista da visualidade de Amanda Melo, decorre de uma vasta pesquisa desenvolvida pela artista no embate entre o corpo e o mar, cartografia e paisagem, desejo e subjetividade. O conjunto apresentado é composto por fragmentos das séries "Sal é mar", de 2009/2010; "Água Viva", de 2010; "Madrepérolas", de 2011; e pelos vídeos "Enquanto tudo passa", de 2007, e "Esplendor", de 2011.

Com seu corpo gelatinoso e seus diversos tentáculos, a "Água Viva" é ser estranho e misterioso, sedutor pela leveza dos movimentos, mas feroz nas queimaduras que pode provocar. Sua locomoção depende dos fluxos das correntes, que se guiam pela lua e pelos ventos. Já na Literatura Brasileira, "Água Viva" é uma refinada escrita poética que foge de um estilo literário definido. É um jogo entre um "Eu" feminino que busca, nas linguagens (pintura e escrita), mecanismos de sedução para conquistar o Outro. Já em Amanda Melo, "Água Viva" é estratégia para cartografar o desejo.

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