terça-feira, 25 de junho de 2013

FPA Lança Boletim de Conjuntura



Após discurso, Dilma comandará 1° reunião por “pacto nacional”: Dois dias após ter realizado um pronunciamento em cadeia nacional em resposta as manifestações que tomaram as ruas do país, a presidenta Dilma Roussef deve se reunir hoje, às 16 horas, com governadores e prefeitos, para a primeira reunião do “pacto nacional pela melhoria dos serviços públicos”, prometida durante o discurso de sexta-feira. Um dos principais objetivos dessas reuniões será elaborar e aprovar um Plano Nacional de Mobilidade Urbana. Além disso, a reunião de hoje deve pautar o tema da saúde e da segurança pública.
Comentário: O pronunciamento de Dilma na sexta-feira em resposta às manifestações e suas principais bandeiras pode marcar a adoção de uma nova agenda pública para os governantes de todas as esferas da federação: as questões sociais e urbanas (saúde, educação e mobilidade urbana) certamente ganharão nova centralidade e deverão pautar os discursos e as ações dos governantes no futuro próximo. Ao mesmo tempo, não há no horizonte de curto prazo muitas opções de ações efetivas que sejam capazes de transformar a precarizada estrutura atual dos serviços públicos. Reuniões como a liderada hoje pela presidenta Dilma, além de servirem como uma resposta simbólica às vozes das ruas, ajudam a pautar as questões, abrir os debates e buscar um entendimento nacional sobre as medidas efetivas, que só serão observadas no médio/longo prazo.

Pesquisas buscam desvendar características das manifestações:
Um conjunto pesquisas apresentadas nos últimos dias buscam desvendar quem são e o que desejam as massas que tomaram as ruas nas maiores cidades do país. O Datafolha conduziu dois tipos de pesquisas em São Paulo: enquanto a primeira foi realizada durante as manifestações, a segunda englobou toda população da cidade. Por sua vez, o IBOPE pesquisou a opinião dos manifestantes em oito das principais capitais brasileiras. Segundo o Datafolha, o perfil dos manifestantes que compareceram na Av. Paulista e no Largo da Batata é de jovens (mais de 80% tem entre 12 e 35 anos), universitários (78% declararam ter ensino superior), majoritariamente do sexo masculino (63%). Na pesquisa que considerou a cidade como um todo (e não apenas aqueles que foram às manifestações), o DataFolha indica que 66% das pessoas consideram que as manifestações devem permanecer nas ruas, apoio que advém principalmente das famílias mais ricas e com escolaridade mais elevada. Quanto às pautas das novas manifestações, 40% acreditam que deveriam versar sobre a saúde, enquanto 20% acham que deveriam ser sobre educação. Já a pesquisa do IBOPE indica que 38% acreditavam que a maior causa das manifestações advinha de questões relacionadas ao transporte público; para 30%, as razões estavam ligadas à política, particularmente à corrupção (24%).
Comentário: As pesquisas realizadas em um momento de forte comoção social como o atual devem ter alguns de seus resultados relativizados, dado o forte componente emocional dos entrevistados. Entretanto, tais pesquisas são muito úteis para desvendar quem são as pessoas que participam destas manifestações e o que pensa a população como um todo das pautas colocadas em debate. Quanto ao perfil dos manifestantes, a grande maioria são jovens de classe média. Isto fica evidente quando 78% das pessoas respondem possuir ensino superior, indicador de escolaridade que está altamente relacionado à renda familiar. Estes jovens mostram um renovado interesse pela política (60% se dizem muito interessados), apesar de apresentar um histórico de baixa participação e pouca ligação com partidos. Também é interessante notar-se que a maior parte da população têm como pauta central as questões sociais (saúde e educação somam 60% das pautas sugeridas para novas manifestações) e que temas como a PEC 37 ocupam a mente de apenas 6% dos manifestantes no Brasil todo. Este conjunto de indicadores poderá pautar as novas interpretações acerca dos movimentos ora em curso, permitindo uma compreensão mais clara acerca das motivações dos participantes e das possíveis estratégias políticas para alcança-los e responder suas demandas.
IPC-S cai e confiança do consumidor também: O IPC-S (indicador de preços semanal medido pela FGV) desacelerou para 0,37% na terceira quadrissemana de junho, contra 0,43% da quadrissemana anterior. A principal queda verificada se deu entre os alimentos, que reduziram seu ritmo de elevação de 0,41% para 0,2%. O índice, entretanto, ainda está influenciado pela elevação nos transportes, particularmente advindo das elevações já revogadas nos ônibus e nos metrôs. Por outro lado, a notícia negativa no campo econômico fica por conta da redução na confiança do consumidor, que após cair 0,4% em junho, registrou a marca de 112,9, menor índice desde março de 2010. A piora nas expectativas dos consumidores está atrelada à queda em relação a percepção da situação economia atual, que é considerada boa por apenas 17,9% das pessoas e ruim por 35%. A confiança sobre o futuro, no entanto, permanece positiva, revelando um voto de confiança dos consumidores no governo e no futuro da economia brasileira.
Comentário: Os problemas econômicos, que até a semana passada eram certamente o centro das preocupações do governo Dilma, perderam terreno para as questões políticas e de natureza social trazidas à tona pelas manifestações. Isso não altera o fato, porém, de que questões como a inflação e o desemprego devem seguir sendo preocupações centrais do governo, pois afetam diretamente a avaliação da população acerca de sua qualidade de vida atual e futura. No campo inflacionário, a retirada dos aumentos de transportes metropolitanos nas principais capitais do país deve diminuir a pressão sobre os dados de inflação de junho, que podem ser novamente pressionados caso a desvalorização cambial se mantenha por um período elevado. Já no campo do crescimento e do emprego, indicadores antecedentes apontam para um mês de maio negativo para a produção industrial, com leve recuperação no mês de junho.


Análise: Guilherme Mello, Economista

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