segunda-feira, 15 de julho de 2013

FPA 13 Informa

 
Na edição de hoje do Boletim de Conjuntura, publicamos uma entrevista exclusiva com João Sicsu, professor do Instituto de Economia da UFRJ , discutindo o cenário atual da economia brasileira e propondo estratégias e políticas para a retomada do crescimento econômico.
Como o senhor viu o aumento de 50 p.b. da SELIC promovida pelo COPOM nesta semana? Qual o eventual impacto do aumento dos juros na inflação neste ano e no próximo?
JS
: Todas as previsões são de que a inflação encerre o ano em patamar inferior a 6%. Será um resultado próximo àqueles dos últimos anos, sem nenhuma novidade. Houve recentemente uma redução nos preços dos transportes urbanos e um aumento no dólar, uma coisa pode compensar a outra. A desvalorização cambial gera mais inflação quanto maior o crescimento. Contudo, há mostras claras de que o crescimento do ano será inferior a 3%, talvez 2%. E os números referentes à geração de empregos formais são decepcionantes. É neste quadro que o Banco Central elevou a taxa de juros, foi uma decisão lamentável. Foi uma decisão contaminada pelo medo decorrente da conjuntura de dificuldades políticas que vive o governo.
A inflação de junho veio abaixo das expectativas do mercado. Quais os riscos inflacionários atuais e quais seriam as melhores formas de combatê-los?
JS
: A inflação de 2013 é semelhante à inflação dos anos anteriores. Tem havido uma pressão altista de preços no primeiro semestre e uma tendência de redução do ritmo no segundo. O governo iniciou um ciclo de aumento de juros e anunciou também que fará uma política fiscal de cortes de gastos em uma economia que cresce a taxas medíocres. Se a inflação é de demanda, qual é o crescimento que precisamos ter para manter a inflação sob controle? Precisaremos ter um crescimento inferior a 1%? Será preciso gerar desemprego de forma significativa? Minha resposta: a inflação não é de demanda, não podemos sacrificar o mercado de trabalho e é preciso ter calma e equilíbrio para dirigir a economia em uma conjuntura de dificuldades políticas.
Maio foi um mês fraco no varejo e na indústria, culminando em um IBC-Br de -1,4%. O acumulado em três meses, no entanto, ainda aponta um crescimento maior que 1%. Qual sua expectativa para o crescimento do segundo trimestre e, caso seja possível tal previsão, para o ano 2013?
JS
: Infelizmente, entramos na era dos pibinhos desde 2011. O crescimento de 2010 foi de 7,5%. O investimento naquele ano cresceu mais que 21%. Era preciso desacelerar (fazer um soft landing) por conta dos gargalos de infraestrutura, mas o governo meteu o pé no freio de forma exagerada: elevou os juros e fez corte de gastos (fez um hard landing). A economia despencou para 2,7% no ano seguinte. Aí chegou a crise internacional. Hoje ainda temos as dificuldades políticas domésticas. A crise econômica já chegou ao mercado formal de trabalho (Caged e Rais) que é o melhor indicador do crescimento. A taxa de desemprego não explica o crescimento porque depende de fatores de oferta e demanda por trabalho. Espero para 2013 mais um pibinho. A era Lula de crescimento com investimento aumentando a uma taxa entre 2 a 3 vezes a taxa do PIB ficou no passado.
A recente desvalorização cambial e a queda na bolsa de valores revelam algum "mal estar" do mercado com o Brasil. Quais, em sua visão, são os motivos desse mal estar e como o governo deveria reagir para acelerar o ritmo de crescimento sem pressões inflacionárias?
JS
: As pressões inflacionárias decorrentes do crescimento são residuais. Afinal, nosso PIB não assusta ninguém, nem a inflação.  Há grandes dificuldades no quadro internacional: pessimismo e a expectativa de elevação dos juros nos Estados Unidos que causam movimentos de capitais para fora. Há dificuldade política interna de insatisfação e de tensão pré-eleitoral antecipada. O quadro é de grandes dificuldades, em parte causado pelo próprio governo. Mas não adianta chorar sobre os erros do passado. A solução é básica, ainda assim, os resultados não apareceriam já no próximo ano. Uma solução seria fazer um New Deal brasileiro para enfrentar problemas econômicos e sociais. O foco deveria ser atacar os problemas de infraestrutura dos transportes urbanos, da saúde, da educação e da habitação. Nosso New Deal deveria inovar com uma gestão compartilhada com a sociedade e aceitar, quando for o caso, o enfrentamento com os adversários políticos. Já é hora de entender que a época de "governar para todos" ficou no passado. Problemas setoriais e sociais não serão resolvidos sem embates e enfrentamentos.

Nenhum comentário: