quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Millôr Fernandes é o homenageado da Flip 2014


Ministério da Cultura e
Associação Casa Azul apresentam

 
Millôr Fernandes é o homenageado da Flip 2014
 
Mestre do humor recebe destaque em Paraty dois anos após sua morte; pela primeira vez um autor contemporâneo é homenageado pela Flip
 
Dramaturgo, editor, tradutor, artista gráfico, uma das figuras mais marcantes da imprensa brasileira, Millôr Fernandes será o autor homenageado da 12ª edição da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty. Morto em março de 2012, aos 88 anos, Millôr deixou uma inesgotável obra literária e intelectual, incluindo peças de teatro, livros de prosa e poesia, romances, desenhos, exposições de pintura, traduções, roteiros de cinema e textos na imprensa.Irreverente, participou de todos os movimentos de renovação cultural da segunda metade do século XX.
 
“Millôr trazia o mundo da Flip num homem só: da tradução de Shakespeare ao cartum, do jornalismo ao hai-kai. Sua crítica ao poder é fundamental no Brasil de 2014”, afirma Paulo Werneck, curador da Flip. O tom humorístico e ao mesmo tempo refinado, fio condutor do trabalho do artista, ganhou fama pelo país nas charges, textos e frases carregadas de crítica social.
 
Ao homenagear Millôr na data em que ele completaria 90 anos – ou 91, se considerarmos o ano real de seu nascimento e não o que consta em registro –, a Flip propõe a reavaliação crítica de um autor contemporâneo, colocando luz sobre sua vida e sua obra ao longo de 2014. “Homenagear um autor contemporâneo é um chamado ao presente, para que os nossos autores de hoje sejam mais conhecidos pelos leitores de hoje”, explica Werneck.
 
Além de inovar na escolha, optando por um autor cuja obra não fosse atual apenas no conteúdo, mas também na temporalidade, a Flip levará ao debate, pela primeira vez, a vida e a obra de um escritor que esteve na Tenda dos Autores: Millôr foi um dos convidados em 2003, ao lado de Ruy Castro – também convidado, Luis Fernando Veríssimo não pôde participar.
 
"Não foi por acaso que Millôr esteve entre os convidados da primeira Flip. Em seu trabalho, podemos reconhecer princípios que nortearam a festa literária, que dissolve fronteiras e promove a integração entre as artes. E que, assim como a obra de Millôr, fala para um público abrangente sem perder a erudição”, afirma Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul e diretor geral da Flip.
 
Versátil, multimídia, Millôr foi um dos primeiros artistas gráficos brasileiros a usar o computador em suas criações. Autodidata, no início da carreira sentiu necessidade de se aprimorar profissionalmente e matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, onde estudou entre 1938 e 1942. A experiência acadêmica o ajudou a refinar um estilo inconfundível, que influenciou gerações de ilustradores e caricaturistas brasileiros. Por sua vez, Millôr foi influenciado pelo célebre cartunista americano Saul Steinberg, com o qual dividiu o primeiro lugar num concurso de cartuns na Argentina.
 
Apesar de ter o humor como marca de seu trabalho, não elegia sempre esse gênero como foco: questionado se gostaria de ser chamado de humorista ou escritor, optou pelo último: "Ninguém é humorista o tempo todo. E eu, na maior parte das vezes, não sei se estou escrevendo coisa engraçada ou não engraçada”.
 
Millôr era um defensor ferrenho da liberdade de pensamento, o que o levou a enfrentar vários conflitos nas redações de jornais e revistas pelas quais passou. Em uma ocasião, na revista O Cruzeiro, durante a reforma editorial coordenada por Odilo Costa Filho, este disse a Millôr que ficasse tranquilo, poisa ele seria dada toda a liberdade. Ao que Millôr responde: "Odilo, você vai me perdoar, mas ninguém pode me dar liberdade. Pode tirar, mas dar, não pode". A briga por seu espaço criativo acabou culminandona saída de Millôr da revista mais importante do país nas décadas de 1950 e 1960.
 
Lançou sua própria revista, a Pif-Paf, um mês após o golpe militar, transformando seu estúdio em redação.Quinzenal, a publicação reuniu alguns dos maiores nomes do humor de então, como Ziraldo e Jaguar. Apesar de não ter uma proposta política ou ideológica definida, a revista foi perseguida, considerada pelo serviço de informações do exército como o início da imprensa alternativa no Brasil. Pif-Paf durou apenas oito números. Millôr teve papel relevante também na dramaturgia brasileira, e sua produção como tradutor foi considerada a mais importante do teatro no país, com destaque para as traduções das obras de Shakespeare.
 
Nas palavras de Paulo Werneck, Millôr “foi também um crítico da falsa cultura, das ilusões da glória literária e artística. Provou que erudição, humor e informalidade, juntos, formam uma liga indestrutível”. De quebra, inventou o frescobol (“o único esporte em que ninguém ganha”) e uma concepção muito particular (e universal) de democracia: “Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo”.
 
A Flip 2014 acontecerá entre 30 de julho e 3 de agosto. Realizada sempre no início do mês de julho, a Flip escolhe nova data para essa edição em função da Copa do Mundo, que acontece durante o mês de julho no Brasil.

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