domingo, 23 de março de 2014

DAN GALERIA EXPÕE OBRAS DE JUAN ASENSIO PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL

DAN GALERIA EXPÕE OBRAS DE JUAN ASENSIO PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL

Sem título, 2013, mármore branco
Ao esculpir, Juan Asensio define formas até que elas fiquem tão belas que marcam a sua busca pela perfeição. Ao combinar o controle do material e objetivo claro do que se quer com ele, o artista espanhol tornou-se, no cenário de arte contemporânea, um dos poucos escultores que primam pela beleza clássica e pela essência primária dos seus materiais.

Pela primeira vez, as esculturas de Juan Asensio são expostas no Brasil, a partir do dia 29 de março, na Dan Galeria. Depois de dividir a sala com artistas como Picasso, Pollock, Kiefer e Anish Kapoor, no museu Reina Sofia, em Madri, e na Gallerie Beyeller, na Suíça, Asensio aporta em São Paulo alguns dias antes da SP-Arte/2014, para a mostra “Geometria infinita”. Além da abertura, a Dan Galeria também festeja a exposição e a chegada do artista com um brunch durante a feira, na sexta-feira, 4 de abril.

As cerca de 50 esculturas expostas na galeria, feitas de granito e mármore, têm tamanha força e imponência que apequenam os visitantes. São várias as fases de produção dessas obras; a começar pelo desenho, que esboça uma primeira ideia. Depois, a dificuldade de desenhar volumes aparece na segunda etapa da produção, quando Asensio esculpe em pedaços de giz. São feitas centenas de provas e variações, que são guardadas ou jogadas fora para passar para a fase seguinte, a da maquete. Feitas de pedra, elas permitem enxergar os traços da escultura em tamanho grande. “As superfícies entram em tensão, as linhas se definem e você começa a perceber no seu âmago que ali existe algo, você sente emoção e euforia, trata-se de um momento maravilhoso e difícil de explicar. A obra já está praticamente terminada. Mesmo assim, deixo essas maquetes encostadas em algum lugar para que repousem por um tempo antes de serem ampliadas”, diz o artista em entrevista para Rafael Sierra, que fará parte no catálogo da exposição.

A simplicidade formal, o atemporal e a unidade do homem com a natureza são elementos da obra de Asensio herdadas de artistas como Brancusi, Anish Kapoor e Noguchi. O barroco e o Renascentismo também são vínculos recorrentes com a estética do artista, devido ao material, a pedra, clássico elemento da arte. Para o artista, porém, o material em si é somente o corpo físico por onde se veicula uma ideia: “muitos, para se afirmar na sua modernidade, apoiam-se no uso de materiais e tecnologias de vanguarda que, frequentemente, escondem a falta de interesse de uma obra”.

Nascido em Cuenca, na Espanha, em 1959, Juan Asensio começou a descobrir as texturas do mármore branco, do mármore preto da Bélgica e do mármore preto do Zimbábue, suas principais matérias-primas até hoje, nos anos 80. Representado internacionalmente pela galeria espanhola Elvira González, Asensio passou, no final de 2012, a fazer parte do time da Dan Galeria.
 
Confira parte da entrevista de Rafael Sierra com Juan Asensio:

RS - Os materiais que você utiliza — o mármore, o granito e a pedra caliça — vinculam-se mais com a escultura clássica que com a contemporânea. Qual é a importância para você desses materiais?

JA - Matéria, forma e ideia constituem uma unidade, uma obra. Meus primeiros trabalhos foram figurativos e utilizava materiais como barro e madeira, que era os adequados para isso. Passei um desses retratos feito em barro para mármore, mas o resultado não me convenceu. A questão de “fossilizar” alguém nesse tipo de material não me pareceu adequada. Porém, o processo foi determinante. Cada passo dado supôs uma aprendizagem que me ajudou a descobrir as possibilidades e qualidades da pedra: sua densidade, sua potência, sua fragilidade... Percebi então que a parte mais interessante desse processo foi o começo, quando trabalhei a partir de um bloco, de uma figura geométrica perfeita, de um prisma. Tudo o que veio depois foi perdendo interesse, por isso, retrocedi e voltei ao princípio. Comecei a revisar a obra de Oteiza e de outros artistas que me interessavam e souberam utilizar a pedra nas suas obras de forma adequada. Continuei a usar a pedra nas minhas primeiras esculturas, partindo de elementos geométricos. Eu me sentia cada vez mais confortável, controlava bem o processo e o resultado foi o que eu desejava. Achei que a pedra era o material adequado para o tipo de obra que estava desenvolvendo.
 
RS - Alguns de seus trabalhos possuem texturas muito diferentes, quase todas elas incitam o espectador a acariciá-las...

JA - Uma parte importante da obra é seu acabamento, sua textura. Dela depende, em grande medida, o resultado de toda a obra. É a pele. Nela deve se deixar clara a intenção que você tem. Essa pele é o que atrai primeiro sua atenção, pede seu olhar para percorrer pausadamente a obra, tentando descobrir o mistério que se esconde nela. Normalmente, evito deixar rastros de ferramentas sobre a obra, para não parecer manufaturado, para desvinculá-la de mim e para que adquira autonomia. A quantidade de recursos expressivos que possui a pedra exige muita cautela a fim de não cair no fácil, no anedótico, supérfluo e desnecessário.
 
RS - Para onde acha que vai a escultura na atualidade?

JA - As instalações estão dominando o panorama internacional nos últimos anos, pelo menos no ambiente das instituições. E, mesmo tendo baixado a intensidade de sua presença, ainda continua a ser uma forma válida de encenar a retórica de muitas propostas. Faz tempo que a tecnologia mais avançada — a informática, a robótica, os tratamentos digitais e, especialmente o vídeo — está sendo empregada com maior ou menor sucesso e será difícil que desapareça. Felizmente para todos nós, a aparição de novas fórmulas e materiais não elimina os anteriores, mas sim se somam a eles, por isso hoje há um amplo panorama de opções. No momento há espaço para todos, sem que a hegemonia de alguma delas seja total. Isto é o presente; em relação ao futuro não faço ideia de qual será a direção, mas não parece que seja fácil abrir novas vias de expressão.
 
Geometria Infinita, de Juan Asensio, na Dan Galeria

Coquetel de abertura: sábado, dia 29 de março, das 10h às 14h
Brunch durante a SP-Arte/2014: 4 de abril, às 11h.
Visitação: De 29 de março a 30 de abril

De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 13h
Rua Estados Unidos, 1638
Telefone: (11) 3083-4600

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