quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Recessão prossegue e impõe mudança de estratégia

 O resultado do PIB do terceiro trimestre no Brasil assustou a maioria dos analistas, ao indicar uma deterioração ainda maior que a esperada. Na média, os analistas esperavam uma queda de 1,2% do PIB na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No entanto, os resultados divulgados pelo IBGE mostram uma queda de 1,75% nesta comparação, totalizando queda de 4,5% na comparação com o mesmo trimestre de 2014. Todos os componentes do PIB apresentaram queda: pela ótica da oferta, a indústria teve queda de 1,3%, a agricultura diminuição de 2,4% e os serviços -1%; já sob a ótica da demanda, a queda do consumo das famílias foi de 1,5%, os investimentos caíram 4% e apenas o consumo do governo apresentou leve crescimento, de 0,3%. O alento veio do setor externo, onde as importações caíram 6,9% e as exportações diminuíram apenas 1,8%, aumentando o superávit comercial e reduzindo a necessidade de financiamento doméstico em moeda estrangeira.
Comentário: A queda do PIB, apesar de já aguardada, veio acima do esperado. A recessão prossegue em um ritmo muito acelerado, destruindo emprego, renda e lucros pelo caminho. A ideia de uma “recessão controlada”, planejada para amenizar os efeitos inflacionários da recomposição dos preços relativos (tarifas públicas e câmbio), fracassou e deixou para trás uma recessão fora do controle, não trazendo consigo nenhum elemento que aponte para a recuperação econômica no curto/médio prazo. A recomposição dos preços ocorreu, trouxe consigo os efeitos inflacionários (que não foram significativamente afetados pela alta dos juros ou queda do PIB) e não trouxe a recuperação da confiança dos empresários, muito menos a recomposição das taxas de rentabilidade que poderiam promover a retomada do investimento privado. Conforme já alertado por diversos economistas, a estratégia recessiva apenas serviu para destruir os horizontes de investimento privado, deteriorar as expectativas empresariais na esteira da queda da demanda agregada e da retração do crédito, além de deteriorar ainda mais as combalidas finanças públicas devido à queda de arrecadação decorrente da recessão. Sair desta armadilha que o país adentrou não será fácil e passará, necessariamente, por uma mudança no discurso e na ação política e econômica do governo, que deve comunicar que o ajuste dos preços relativos se completou e que, para o futuro, o tema a ser enfrentado é o da retomada do crescimento econômico. As ferramentas, mesmo que pouco ortodoxas, existem e estão à disposição do governo: a manutenção do atual patamar cambial (que incentiva as exportações e reduz importações), a manutenção da atual taxa de juros real (que permitirá a redução da taxa nominal, uma vez que os índices inflacionários caírem no início de 2016) e a retomada dos investimentos e crédito, através da criação de um fundo de investimentos que utilize parte do excesso de reservas internacionais que o país acumulou ao longo dessas décadas. A comunicação adequada do fim do ciclo recessivo, da abertura de uma nova estratégia (negociada com os setores empresariais e trabalhadores) de retomada do investimento e do crescimento, além da escolha adequada das ferramentas utilizadas para esta estratégia(priorizando investimentos públicos e privados com alto efeito multiplicador, além de crédito direto às empresas e consumidores, não ao sistema bancário privado), pode ser a chave para a superação desta recessão, que ameaça prosseguir a todo vapor ao longo de 2016.

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